O senador Jorge Viana (PT) subiu nesta terça-feira, 9 de abril, na
tribuna do Senado para rebater as recentes declarações do presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, sobre o fato
de o Congresso ter aprovado projeto que trata da criação de tribunais
“de maneira sorrateira”. O senador reagiu: “Como vice-presidente do
Senado, não posso calar – quem cala consente, eu aprendi faz muito
tempo”.
O parlamentar declarou que o termo usado pelo ministro da mais alta
Corte de Justiça do país é “absolutamente inadequado”. Viana foi relator
do projeto de emenda constitucional, aprovado pela Comissão de
Constituição e Justiça do Senado, que trata da criação de tribunais de
segunda instância da Justiça Federal. “Acho que essa é uma frase
infeliz”, declarou Viana.
Em reunião com representantes das associações de classe da
magistratura brasileira, na última segunda-feira, Joaquim Barbosa disse
que o projeto de criação de novos quatro tribunais regionais federais,
aprovado pela Câmara na semana passada, ocorreu de maneira “sorrateira” e
na “surdina”. “Eu estou pondo a carapuça. Será que o Senado tem que
aceitar isso?”, indagou Jorge Viana.
O parlamentar lembrou que o projeto tramita na Câmara desde 2002, e
que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão presidido desde o ano
passado por Joaquim Barbosa, pronunciou-se favoravelmente à criação de
novos TRFs. “A matéria foi aprovada por nove conselheiros, de doze”,
destacou.
Hipocrisia
De acordo com o parlamentar, a situação é preocupante. “Não sei que
fase do nosso país estamos vivendo, mas acho que é uma fase onde se
mistura a hipocrisia com o medo”, disse. “Hipocrisia com medo não dá
muito certo, são duas coisas terríveis”.
No encontro com os presidentes de associações, o presidente do STF
afirmou que as sedes dos novos TRFs serão erguidas em “resorts e grandes
praias”. “A frase é do presidente do Supremo Tribunal Federal do
Brasil”, comentou Jorge Viana. “Isso é um desrespeito com a Bahia, que
está propondo ser sede de um tribunal”.
O senador também se mostrou surpreso com o tom ríspido do encontro de
Joaquim Barbosa com os representantes das associações de classe dos
juízes. Na audiência ocorrida no STF, em pelo menos duas vezes, Joaquim
Barbosa se mostrou irritado e impôs aos convidados que baixassem o tom
de voz ou apenas se dirigissem a ele quando fossem solicitados.
“Acho absolutamente inadequada uma relação assim entre o presidente
do Supremo Tribunal Federal e os representantes de classe dos juízes e
juízas federais. É esse o clima?”, indagou Jorge Viana. E continuou: “É
essa a relação que cria um processo pedagógico, educativo, para o
cidadão brasileiro? Vi na televisão o presidente do Supremo dizer:
‘Calem-se! Aqui não tem que falar alto. Vocês estão na presidência do
Supremo Tribunal Federal’”.
O senador concluiu seu pronunciamento lembrando que a prestação de
serviço jurisdicional é de interesse do país e da maioria da população.
Ele avalia que a Justiça Federal está emperrada e não consegue atender a
demanda. Apenas o TRF da 1ª Região, sediado em Brasília, é responsável
pelo atendimento a 70 milhões de brasileiros distribuídos em 14 estados.
“Sabem quantos quilômetros tem que andar uma pessoa do Acre para
alcançar um recurso de segundo grau na Justiça Federal? Quatro mil
quilômetros. Esse assunto não pode ser tratado dessa maneira”.
E completou:
- Dessa vez ele errou e errou feio. Eu não fiz encaminhamento sorrateiro – disse Viana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário